14 de nov. de 2014

Analfabetismo funcional - Da faculdade ao mercado de trabalho

Há tempos escuto falar de analfabetismo funcional, mas trabalhando numa faculdade e lidando diretamente com alunos de graduação, esse termo nunca ficou tão expressivo - e assustador. A comunicação com esse público torna-se desafiadora, especialmente se for na forma escrita. E-mails com comunicados e orientações para fazer uma simples prova, informando horário, local, o que vai ser permitido ou não, são respondidos pelos alunos com perguntas que configuram claramente a realidade: eles não leram as informações ou se leram não entenderam. 

Elaborar uma simples prova exige dos professores ainda mais trabalho. Em uma ocasião estava aplicando uma prova a alunos do curso de Engenharia da Produção. A prova era sobre comportamento organizacional. Uma das perguntas dizia: "Quais são as atribuições de um líder?". Numa sala com 35 alunos, pelo menos 8 me perguntaram o que significava a palavra "atribuições". Em outra aplicação de prova, o enunciado dizia para "citar as consequências da Revolução Industrial". E alguns alunos tiveram dificuldade de entender o que era "citar". Numa outra prova, os alunos tiveram dificuldade de entender o que era para ser feito, apesar de ser permitido consultar um material de estudo. E houve reclamação em massa de que esta prova, com consulta, foi difícil e cansativa! 

Essas situações me convencem de uma triste realidade: temos que nivelar nossos alunos de graduação por baixo. E bem baixo. Primeiro, a maioria não estuda. Segundo, a tão famosa "cola" ou o recurso do plágio é algo que os alunos não entendem como atitude ilegal, antiética e desonesta. Terceiro, mesmo que se aplique uma prova muito, mas muito fácil, os alunos terão dificuldade de entender o que se pede. Esse é um dos muitos conceitos de analfabetismo funcional. 
"É considerada analfabeta funcional a pessoa que, mesmo sabendo ler e escrever um enunciado simples, como um bilhete, por exemplo, ainda não tem as habilidades de leitura, escrita e cálculo necessárias para participar da vida social em suas diversas dimensões: no âmbito comunitário, no universo do trabalho e da política, por exemplo." (Instituto Paulo Montenegro)

Professores e educadores técnico-administrativos têm o desafio de atuar neste cenário: no Brasil, há um pouco mais de 35 milhões de analfabetos funcionais, conforme as estatísticas oficiais. Segundo dados do IBOPE (2005), o analfabetismo funcional atingiu cerca de 68% da população. O censo de 2010 mostrou que um entre quatro pessoas são analfabetas funcionais (porcentagem é de 20,3%). Em 2012, o Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa divulgaram o Indicador de Analfabetismo Funcional (INAF) entre estudantes universitários do Brasil e este chega a 38%, refletindo o expressivo crescimento de universidades de baixa qualidade durante a última década. 

São esses alunos que, em breve, estarão no mercado de trabalho contribuindo ainda mais para a queda da produtividade. A deficiência em habilidades básicas resulta em perdas e danos da ordem de US$ 6 bilhões por ano no mundo inteiro. Claro, essas pessoas não entendem sinais de aviso de perigo, instruções de higiene e segurança do trabalho, orientações sobre processo produtivo, procedimentos de normas técnicas da qualidade de serviços e negligência dos valores da organização empresarial.

Infelizmente, notícias como defeito no chip Pentium da Intel levou-a a substituir o produto no mercado; um número desconhecido de cápsulas de Tylenol contaminado com cianureto mata oito pessoas nos Estados Unidos; a Johnson & Johnson retira todos os frascos do mercado americano e tem um prejuízo de US$ 100 milhões podem se tornar cada vez mais comuns... Aqui no Brasil. 

Fontes: O Analfabestimo Funcional - Por Paulo Botelho;
Opinião: O analfabetismo funcional - Por Vicente Vuolo.

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