Programar ou ser programado? Em um mundo onde a lógica digital impera
cada vez mais no mercado, quem detém o poder é quem programa, “ou você
será programado”, comenta Martha Gabriel, especialista em marketing
digital, em um bate-papo sobre como gerenciar sua carreira profissional
na era digital.
Essa realidade não está restrita apenas ao mundo corporativo, destaca
a especialista, que enfatiza como as pessoas, os relacionamentos e as
casas estão hoje organizados segundo a tecnologia. “Nos relacionamentos
há uma separação dos que estão e os que não estão no universo digital, é
uma camada em paralelo. Hoje todo mundo precisa ser um pouco geek.”
Segundo Martha, quem vem das áreas de TI e de exatas, de uma forma
geral, têm muitas características que dão enormes vantagens competitivas
diante desse cenário. “É uma oportunidade gigantesca para o
programador! A visão metodológica e a capacidade de resolver problemas
são características indispensáveis para o mundo atual. No entanto, esses
profissionais terão que desenvolver habilidades de comunicação,
compreensão e relacionamento com as pessoas, que são características das
profissões de humanas. Em contrapartida, essas últimas terão que se
tornar também um pouco geeks.”
Nesse mundo multidisciplinar, a integração entre humanas e exatas
será cada vez mais necessária, avalia a especialista, que mostra que em
alguns setores isso já tem acontecido, como no marketing, com o uso cada
vez maior de bases analíticas para planejamento estratégico das marcas,
e no design, com as artes digitais e a computação gráfica. “Temos características nossas que nos levaram a escolher tal
carreira, mas precisamos olhar para a necessidade de desenvolver certas
habilidades e ampliar nossas capacidades para sermos um profissional com
maior valor no mercado. No mundo de hoje não há barreiras e precisamos,
sim, abraçar outras áreas. E é o que as empresas já estão fazendo, por
exemplo, abraçando a TI. O CIO tem que trabalhar junto com o CMO, por
exemplo. Hoje o CMO não consegue ser só o cara de mercado, ele tem que
entender de tecnologia, de big data, de cloud. E o CIO não dá pra ser só
o cara que entende de TI, ele precisa entender de mercado também.”
Martha afirma que as pessoas, hoje, já são educadas para atender a
essas exigências. Mas os profissionais que se formaram anteriormente
estão tendo que se adequar. “Muitos estão sentindo que o diploma não
vale muita coisa, ele é o de menos. O que importa é como me capacito no
curso que escolhi para saber resolver problemas do dia a dia, aprender a
lidar com adversidades e, principalmente, para me relacionar com
pessoas”, comenta.
Engenheira pela UNICAMP, pós-graduada em Marketing pela ESPM e Design
pela Belas Artes de São Paulo, mestre e PhD em Artes pela USP, Martha
pode falar do assunto com propriedade. “Uso todas minhas habilidades
como engenheira e acrescentei outras do mundo de humanas – uma ajuda a
outra no dia a dia. A dica que eu dou é que se você é de exatas, faça
uma pós-graduação em humanas. Você vai sofrer um pouco, mas isso irá te
proporcionar uma visão do mundo completamente distinta. E se for de
humanas, faça MBA em exatas, como por exemplo em gestão de projetos.”
On x Off: não se sabote - A velha discussão sobre a separação do mundo físico do online também
esteve em pauta na conversa e, para Martha, isso não existe mais. “Meu
perfil no Facebook é outra dimensão, outra parte do que eu sou. Hoje
temos um híbrido entre o on e o off e o corpo possui várias extensões
tecnológicas com essas plataformas digitais. Então, não misture o
profissional com pessoal nas redes sociais. Não se sabote.
A autora de diversos livros sobre tecnologia lembra que muitas
pessoas se esquecem de que tudo que elas colocam na internet ajuda a
construir uma imagem, seja qual for o conteúdo. “As pessoas esquecem, a
internet não. Quem vai contratar um funcionário irá ver o LinkedIn, ou
assistir a um vídeo dele no Facebook ou até encontrar brincadeiras
aparentemente inocentes como ‘não gosto de segunda-feira’”, diz.
Martha utiliza a metáfora de um aquário para evidenciar como a
internet é transparente e relembra Sócrates, evidenciando a necessidade
de se construir uma reputação que pela qual quer deseja ser visto no
online. “Quem está no mercado tem que saber que a internet está
construindo esse dossiê sobre você. Temos todo um ecossistema na rede e
as ferramentas de busca são muito poderosas. Então você precisa de uma
estratégia de busca: tenha um plano de marketing pessoal – de forma você
quer ser visto como profissional – e comece a produzir com calma e
consistência o que você deseja que apareça em sua busca do Google”,
aconselha.
Isso pode ser feito através da criação de conteúdos sobre assuntos
que você conhece vão rechear a busca pelo seu nome – e isso pode ser
feito com sites, blogs, posts no Twitter, vídeos no YouTube,
apresentações de SlideShare, etc. Como exemplo, ela cita que alguém que
fez um curso de game pode montar um vídeo de “how to” e colocar no
YouTube e, dessa forma, virar uma referência para quem está procurando
uma pessoa com esse perfil. “Você não controla o que as pessoas falam de você, só o que você
mesmo fala de você! O que você não falaria em lugar público, não fale
nas redes sociais, pois são lugares públicos”, conclui a autora.
Fonte: IT Web